segunda-feira, 6 de julho de 2015

Geração Zero; por Dante Camparo

 
 
Todos os nossos companheiros
Riem de nós pelas costas
Enquanto éramos bons marinheiros
As rosas do mar não estavam mortas
 
Todos aqueles que fingimos gostar
Cada um que amamos, nós abandonamos
E não há motivo para querer voltar
Este é o caminho que sozinhos trilhamos
 
Estamos cegos pelo prazer
O silêncio nos ensurdeceu
Quantos corações deixaram de bater?
Uma mente já esqueceu
 
Somos os bastardos e retardados
Desse admirável mundo justo
Somos os corações quebrados
De um sistema que valoriza o custo
 
Deixamos transparecer demais nossa insônia
Nos rendemos aos efeitos da narcolepsia
Permaneceremos nessa tremenda amnésia
Até que ela evolua para esquizofrenia
 
Onde estamos de fato?
O que fizemos realmente?
Qual livro terá nosso relato?
Poderei dizer que sou valente?
 
Somos apenas idiotas
Palhaços demagogos e sonhadores
E até que tomemos nota
Estaremos sufocados por nossos temores.

(Nós não precisamos dessa educação!
Nós somos a minoria!
Não queremos essa hipocrisia!
Não precisamos do seu perdão!)
 

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Anomalia de Maré; por J. F. Lisboa


 
Meus gritos estão estridentes
Misturados com profundos resfôlegos
Eles escapam pelos meus trincados dentes
E soam como ardentes suspiros sôfregos
 
Meu espírito está desgovernado
Minha cabeça vive perturbada
Entrei em um trem descarrilhado
Infiltrado no inferno, perdi a parada
 
Apostei minha vida em você
Tudo que toco torna-se ouro
Onde meus demônios irão se esconder?
Em minhas veias só há agouro
 
Assim como a minha família esquecida
Dez anos se vão tão depressa
Eu estou retornando a minha casa perdida
O bom filho ao lar regressa
 
Aqui é onde meu coração sempre esteve
E, apesar, de ter agido como um carrasco
Ele foi o único que me manteve
Quando todos sentiam asco
 
Nada aproveitei de minha vida
Acreditando em contos de fada
Por mais longa que seja a ida
Breve é a volta, mas conturbada.

Norte Afônico; por J. F. Lisboa

John Lennon
 
Para muito distante
Ora morena, ora ruiva
Tantas vozes a cada instante
Caindo sobre mim como chuva
 
Eu também poderia cair
Cair de cabeça em amor
As rosas do mundo podem sumir
Mas nunca um sentimento incolor
 
Paixão, quem diria outra vez
Convulsão de compulsões roucas
Já não  pulsei por isso este mês?
Perturbam-me memórias tão poucas
 
Nações e povos há muito ruíram
Por esse indistinto sentimento
Mil muralhas já se ergueram
Pela sua ausência, consequente sofrimento
 
Então fale com a minha alma
Junte-se a minha antiga caverna
Seja, na tempestade, a minha calma
Seja, em minha vida, uma alegria eterna
 
Já passou-se uma eternidade
E a essência jamais mudou
Sei que estou fora da realidade
E é mentira a história de amor
 
Mas só peço uma vez, uma vez mais
Fique comigo neste frio leito
Minha razão em sua palma se desfaz
Coração vadio foge de meu peito

domingo, 28 de junho de 2015

Tragédia; por Dante Camparo

Julian Casablancas (The Strokes) - Heart In A Cage
 
Alguns dias são tão poucos
Para tudo que tento fazer
Há tanto tempo vivo com loucos
Que até um já aprendi a ser
E em meio a tantos sufocos
Minha libação é apenas viver
 
Eu imagino ruas de grama
E casas construídas com fermento
Eu imagino uma mulher que me ama
Sem restar-lhe um pingo de sofrimento
Mas eu estou mergulhado em lama
E tudo que sobrou dela foi o tormento
 
Algumas horas são mais fáceis de suportar
Quando estou preso nas paredes modernas
Riscando minhas cicatrizes ao exaltar
Os rabiscos de uma vida eterna
E uma granada de vidro detonará
Quando para fora uma emoção hiberna
 
Quantos amigos já deixei para trás?
Quantos deles riram de mim?
Em coração sem dono não há paz
Em cabeça de condenado só há fim
Serei eu, um homem capaz
Ou, apenas, mais um aluno ruim?
 
Todos aqueles que eu fingi amar
Estar completamente abandonado
Respeitar, sorrir e desconfiar
Fui um animal vil e amargurado
Correr e não respirar
É estar num julgamento, sem ser perdoado


segunda-feira, 8 de junho de 2015

Declínio e ascensão; por Dante Camparo


 

Uma vez um pesadelo magistral
Uma vez a origem do mal
Uma vez um dragão sem controle
Uma vez uma ação que me anule

Televisores sonham com o amanhã
Mas profetizam a mentira do ontem
Se progredirmos sem uma mente sã
É melhor aceitar que todos mentem

Mas poderíamos dizer que outrora
Vivíamos em tempos de paz
Que infelizmente, deixados para trás
Em uma explosão de última hora

Somos os filhos do nascer do Sol,
Somos os guerreiros de outro prol
Nas colinas da foz e da nascente
O peregrino encontra seu consciente

Pois derradeiro é o caminho do astro
O único caminho que ele conhece
E servindo como guia e clássico mastro
Ele nasce, subsiste, mas não envelhece

E quando todos os sonhos são feitos de esperança
E a única matéria que sobra é a anarquia
Nós nos vemos em antigo bom dia
Onde a alma humana vence e descansa

 
 

2015, prometa ser gentil!

   Aqui estou, em mais um ano de vida, uma ano de lástima, um ano de amor, um ano de derrota, um ano de glória. Consegui sobreviver ao passado e comecei este com uma certa certeza de felicidade que tornou-se um relevante realidade de tristeza. Passei tempos sem postar, sem escrever, sem produzir, até que encontrei a pintura, os pincéis, as tintas, os papéis e as telas, e então eu depositei toda a raiva e insatisfação neles, no melhor estilo Lisboa punk-emo-gótico de ser, posso dizer que ficou ótimo, mas esta revolta desencadeou mais fatores que me deixaram uma pessoa descrente, séria e reprovadora. Neste ano, haverá algo mais flexível aqui, diferente, chega de fórmulas, padrões e ações desenfreadas. Este ano será um ano de contradições e acertos.
   É bom estar aqui novamente!
   Sou bem-vindo em minha velha casa.


                                                                         José Lisboa - Dante Camparo
 

sábado, 6 de dezembro de 2014

Era Uma Vez... Outra vez... Mais Uma Vez; por J. F. Lisboa


Penso em você nas brechas do meu dia
Fico me perguntando se existe mais alguém
A todo tempo imagino se tu podia
Amor, pensar em mim também

Nas páginas das minhas escrituras
Vejo teu risonho rosto estampado
Alegro fico ao ver as fulguras
Teu belo olhar apaixonado

Queria poder dizer o quanto
Gosto de amar-te outrora
Estagnado no rubro canto
Atrasado aguardo a aurora

O tempo que passei te ouvindo
Não foi ao todo o bastante
Imagino se te ver dormindo
É o que preciso neste instante

Pois sei teu nome e tua idade
Mas nada sobre teu coração
O mundo inteiro é saudade
Mas pode ser paixão

Quem te viu, ainda te quer
Mais um segundo ao teu lado
Quem os viveu sabe como é
Só são bons se aproveitados

Parecem que são as horas mais felizes
E tudo perde a importância
Tua voz adocica cicatrizes
Teu sorriso lembra infância

E o tempo como meu clássico inimigo
Não me almeja mais que o amor
Cujo bilhete alerta do perigo
Mas eu nunca dou valor

Você irá embora do meu dia
E eu pedirei ao médico: alta!
Já que teu nome é sabedoria
E eu vou sentir tua falta.