domingo, 5 de outubro de 2014

Extra Oficial: PENSAR, IR, FAZER

   

     Há alguns meses, aconteceu-me um evento cataclísmico. Não foi alguém que conheci, mas que descobri, ela já estava ali há muito tempo e a única coisa que eu precisava era notá-la. Cabelos negros, pele clara, olhos castanhos, uma aparência normal para quem vê na primeira vez. E foi com essa impressão que eu fiquei dela, se eu não fosse tão cômodo talvez a história teria começado mais cedo.
     Bom, a questão é que antes eu havia descoberto uma das mais genuínas artes da humanidade: a Poesia. Aprendi a amá-la de uma forma constante, meu coração pulsava poesia, minhas veias carregavam versos e estrofes, eu me sentia ótimo porque me sentia um artista, porém sabia que demoraria bastante para me considerar um poeta. Durante esse período eu havia escrito muitos poemas de qualidade questionável (que, inclusive, estão todos disponíveis neste blog) e postado na internet, assumi um pseudônimo e tentei suprir meu vazio, o oco da minha existência, digamos de 10% foi preenchido.
     O começo foi numa convenção bem categórica onde eu costumo gostar bastante de comparecer. Eu estava perdido, por um lado, mas por outro eu existia extasiado e complexamente elétrico, eu estava com quem gostava e presenciava um evento que me alegrava. Procurei meus amigos e encontrei ela novamente, sua apresentação foi estranha e explosiva e depois ela se mandou, não a vi mais naquele dia; já era o bastante para a tudo começar.
     Disse algumas palavras, falei algumas frases engraçadas e consegui me aproximar, mostrei parte de mim e mostrei minha arte, fiquei feliz quando percebi que ganhou sua afeição. Me fez perceber o valor que a arte em geral tinha: como o teatro era comédia, mas também tragédia; como a vida era um teatro, mas também improviso; como um livro pode ser memórias, mas também realidades; e como amor pode ser melodia, mas também prosa. A toca do coelho é nada comparado com o mundo no qual ela mergulhou minha cabeça, foi como me centralizar pouco antes do horizonte de eventos de um buraco negro onde os fótons estão em órbita e você pode enxergar sua própria nuca. Foram madrugadas e amanheceres proveitosos de conversas, poesia e política, promessas e mentiras, números e variáveis, ela me completava. As coisas estavam ficando melhores, minha vida recebia algo que eu jamais imaginei ganhar. Ela dizia para eu sair do quartinho, ela mandava eu aproveitar cada segundo da minha vida, ela falava para eu ser maior do que eu era, era só fazer um esforço, já que o empurrão tinha sido dado. Um clarão lançou-se sobre minhas pálpebras e a cada minuto que eu tinha com ela, a luminosidade só aumentava, quando abri meus olhos foi que percebi o paradoxo da realidade humana: aquilo que reluzia e irradiava não estava vindo de fora, não era um holofote contra mim, mas sim meus olhos que brilhavam e que tudo era questão de usá-los para ver a verdade, para me libertar. Para ir e inspirar, ir e ouvir, ir e discutir, mas principalmente ir lá e fazer.
     E depois de saber disso, eu guardei para mim, mais um erro. Decaí. Por mais de cinco meses, eu permaneci em exílio mental, apenas respirando ao acordar, ao estudar, ao pensar. E aí meu irmão maluco chegou num sábado de laringite e vômitos dizendo “Eu assisti a palestra mais louca da minha vida!” e pesquisou no Youtube o vídeo da abertura do TEDxPortoAlegre 2010, com o jovem futurista Tiago Mattos. Eu jurava que ia encontrar gritaria, pulos, e hiperatividade, mas me frustrei. Apenas depois de muito tempo quando eu parei para estudar o vídeo, percebi que se ele tivesse dito genial em vez de louca, minha resposta cerebral tinha sido mais rápida. Com aquele discurso eu percebi que eu tinha muito o que fazer, muito o que mudar na minha vida, e novamente demorou até que acontecesse. Mas quando me veio a ideia de que eu queria trabalhar com educação e arte, um tornado levou todos os ciclos de aporrinhação e comodidade embora, eu me levantei e olhei em outro mundo, tive ideias e as pus em prática, tive sonhos e fui realizá-los, proferi o meu lema de vida, meu mantra: Quebre o círculo, inove, saia dessa zona de conforto.
     E eu pude então compartilhar do mesmo pensamento daquela guria que tanto me encantou por nunca ficar parada no mesmo lugar. Eu consegui entender o que ela tentava me mostrar. Hoje em dia eu repudio tudo que me acomoda, quando eu vejo uma situação que de cara me incomoda, eu penso na zona de conforto e no mesmo segundo levanto a bunda da cadeira e ponho-me a realizar a façanha. Quando eu vejo algo que há muito tempo está do mesmo jeito, bagunço ou mudo de formação, com isso dou a mim mesmo um loop infinito de novas portas que se abrem para conhecimento e experiência.

     A gente só tem que ir lá e fazer!

     Improbabilidade gera possibilidade.