quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Um Passeio no Subconsciente; por J. F. Lisboa


Vens me visitar nesta madrugada?
Lyubov', há tempos eu não acredito
Teu toque foi odisseia incontestada
Mas ao velar dos mortos, desabito
Quando puderes não desagrada
O momento de solucionar o meu conflito
 
Tonta e célebre, da smert' veloz arquejo
Já não se encontram os cânones brasis
Como louco, a zhizn' também almejo
Para o término de meus pecados tão vis
Há décadas não lhes confio um cortejo
De devassos arrependimentos sou feliz
 
Das crises sou um rebelde enamorado
Ciente sou dos meus pecados nesse mundo
Não procuro o perdão em álcool destilado
Não trago todo meu vício tão fundo
A gnev me encontrou um dia despedaçado
 E limpou um coração que chorava imundo

Mas a strast' casta viu-me em mesmo dia
E junto a ela havia um presente derradeiro
Ergo! Pois não sabia o saber da revelia
Que apresentava-me de mãos dadas, um coveiro
Um conhecido santo da afeição e da histeria
Contou-me a história de um bebum guerreiro

Era cigano calculista e minha palma leu
Sorriu, sem entender onde errou
Sussurrei que em mãos de escritores como eu
Não há uma só palavra que ainda não chorou
Ele mostrou que não foi o escritor que escreveu
A mentira com a primeira palavra que amou

As linhas tortas da minha palma são apagadas
Mas diziam que eu encontraria mais uma vez
Minha vida era feita de uma péssima jornada
E o meu coração de infinitos "por quês"
Mas a profecia cumpriu-se em hora errada
Na boca, só restou escapar lúgubre um talvez

O cigano disse que na alma está um poeta
Nas mãos um esforço que beira ao talento
Não adiantaria fugir do baile ou da festa
As máscaras derreterão ao vento
Até na cova um coração partido desperta
Até no altar pode-se destruir um casamento

"Eu caminhei pelos espinhos dessa mente nefasta
E foi no centro agonizante da sua imaginação
Que eu descobri o segredo de querubins da sua casta
Disseram-te que amar é uma eterna maldição
Mas é uma mentira vergonhosa que lhe afasta
Do verdadeiro poder que há em seu coração

Apesar de não encontrar muita alegria
Vi a centelha divina na estrela mais alta do inconsciente
Os corações batem opostos, fora de sincronia
Eu li suas cicatrizes e parecia confessar algo diferente
Não pude saber o que era, mas entendia
O sentido da sua vida é encontrar seu eu inconsequente

Pois apesar de amar os outros como um leão
Você só se completa consigo unido
Isso não é um defeito, mas também é punição
Vou lembrar-lhe pois talvez tenha esquecido
Há mentira e angustia nesse terrível furacão
E você jamais poderá ver-se livre ou absolvido"

Você consegue ouvir os lobos cantando?
Seus uivos estão em uníssono demoníaco
Fornicação e Miséria foi como Deus os esteve nomeando
Defuntos rastejam babando podre amoníaco
O hino que essa legião vem há séculos entoando
Chama-se Tribulações, um juramento genesíaco

O momento de solucionar o meu conflito
Quando puderes não desagrada
Mas ao velar dos mortos, desabito
Teu toque foi odisseia incontestada
Lyubov', há tempos eu não acredito
Vens me visitar nesta madrugada?
 
O que sinto transborda o meu peito
Minha mente confusa transcende o amar
Lutar deveria eu para ser aceito?
Ou os meus olhos só poderão observar?
O amor por ela mancha meu leito
Tenho medo de novamente amar

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